Uma vila de casas na cidade de Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza, tornou-se um “território fantasma” após cerca de 30 famílias serem expulsas por facções criminosas. Muitas casas estão trancadas, ainda com os móveis dentro, mas sem sinal de habitantes. Em muitos muros, pinturas tentavam apagar os símbolos, ainda visíveis, das pichações das facções.
A área, conhecida como Jacarezal, foi disputada pelos grupos cariocas Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP) – este último “herdou” o controle do local do Guardiões do Estado (GDE), grupo de origem cearense. Ao fim, a disputa deixou um cenário de abandono e medo.
A expulsão ocorreu em setembro, após uma escalada de conflitos entre facções rivais. O CV tomou o controle da área, antes dominada pela GDE. Em resposta, a GDE se aliou ao TCP, intensificando os confrontos. Tiroteios, ações policiais e o assassinato de um morador que resistiu à ordem de saída culminaram no esvaziamento da vila.
Moradores das proximidades relatam viver sob ameaças constantes e restrições de circulação. A ausência de segurança pública é criticada, e há denúncias de abandono por parte das autoridades.
Especialistas apontam que a localização estratégica da pequena vila de casas em Pacatuba, próxima à CE-060 – que dá acesso a diversas cidades do estado – atrai o interesse das facções. As autoridades afirmam estar atuando na região.
O que aconteceu?Pelo menos 30 famílias foram obrigadas a sair de casa na semana do dia 22 de setembro após ameaças de criminosos em uma pequena vila localizada na região conhecida como Jacarezal, na Avenida Senador Carlos Jereissati, em Pacatuba, no Ceará.
O local, que antes abrigava também pequenos estabelecimentos, como barbearia e uma igreja evangélica, agora está abandonado. As portas das casas estão trancadas com cadeados reforçados, animais domésticos caminham pela vila sem rumo, poeira e sujeira tomam conta das calçadas.
A comunidade era considerada território da facção GDE há anos e era conhecida por abrigar um ponto de venda de droga. Antes das expulsões, era possível ver pichações em referência à GDE nos arredores da comunidade, com ordens a quem trafegava por lá para baixar os vidros dos carros ou tirar o capacete.
No último 9 de setembro, já em meio à disputa de territórios entre a GDE e o Comando Vermelho (CV) em Fortaleza e Região Metropolitana, passaram a circular nas redes sociais imagens de pichações do símbolo CV em algumas casas do Jacarezal.
A pintura era um indicativo da disputa do Comando Vermelho para tomar o controle do local e do tráfico de drogas na região, até então predominantemente dominada pela GDE. Em 15 de setembro, o Comando Vermelho comemorou com uma queima de fogos a vitória sobre a GDE no domínio de algumas comunidades de Fortaleza, como o Lagamar.
No dia seguinte, 16 de setembro, a GDE e a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) – rival de longa data do CV no Rio de Janeiro – anunciaram uma fusão no Ceará. Houve também uma queima de fogos em diversas localidades do Ceará. No mesmo dia, as pichações da GDE no Jacarezal já haviam sido sobrepostas pelas do TCP.
Nos dias seguintes, moradores relataram tiroteios esporádicos nas proximidades do Jacarezal, alguns deles em plena luz do dia. Também foram relatadas intensas movimentações policiais, inclusive com uso de helicópteros.
Na madrugada do dia 22 de setembro, um homem foi morto por criminosos no Jacarezal, dentro de casa, supostamente por desobedecer a uma ordem da facção para deixar o local. Três dias depois, a comunidade estava vazia.
O que dizem os moradores da região?Moradores da região, que não foram identificados por questões de segurança, relatam o clima de medo e mudanças na rotina após o início do conflito. Entrar na ‘vila-fantasma’, por exemplo, passou a ser proibido pela polícia, diz a população.
Alguns dos moradores expulsos já tentaram retornar às suas casas para buscar móveis ou itens pessoais, mas sem sucesso. As vítimas buscaram abrigos em casas de familiares.
Como está o local agora?O g1 esteve na vila abandonada durante uma manhã e tentou conversar com vizinhos do local, mas a maioria das pessoas recusou dar entrevistas por medo de represálias. Em algumas casas é possível observar a pressa dos moradores na hora de ir embora: pano de prato jogado no chão, garrafas e baldes espalhados, poeira acumulada.
A vila é cercada por matagal e um rio. No fundo, uma única casa com as portas abertas traz uma placa de “Vende-se”. Ao lado da placa, uma pichação com a sigla da facção GDE (Guardiões do Estado) aparece coberta por tinta branca.

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